Vale a pena comprar carro usado por motorista de aplicativo?
Veículos utilizados por profissionais podem rodar mais de cem mil quilômetros em um ano
Consumidores interessados em adquirir um modelo popular seminovo têm encontrado carros ano 2018 ou 2019 com alta quilometragem nas lojas. Essas opções surgem com fartura no mercado, um cenário bastante diferente do início da década, quando o mercado de automóveis novos passava por seu melhor momento.
A explicação do fenômeno está na venda em massa de automóveis para locadoras e na utilização desses por motoristas de aplicativos.
Os veículos são alugados por períodos de um ou dois anos e depois repassados ao mercado de usados.
Os carros rapidamente ultrapassam a média anual da frota brasileira, estimada em 15 mil quilômetros.
Não raro, um modelo utilizado por profissionais pode registrar mais de cem mil quilômetros após 12 meses de uso.
Esses veículos são vendidos com descontos e, em geral, mantêm boa aparência —essa é uma exigência para ser bem avaliado pelos clientes. São carros atuais, idênticos aos encontrados nos showrooms das revendedoras de modelos zero-quilômetro e dentro do período de garantia, o que torna o negócio atraente.
Mas são necessários alguns cuidados antes de fechar a compra. O primeiro passo é verificar o manual do proprietário e checar se as manutenções regulares foram feitas. Carros de locadora usados por motoristas de aplicativo também precisam passar pelas revisões obrigatórias para não perder a garantia.
É comum encontrar modelos com pneus de marcas diferentes entre os eixos ou com desgaste acentuado.
São situações que indicam gastos futuros com a troca, despesa que deve ser considerada. A substituição de um jogo completo, com alinhamento e balanceamento, custa cerca de R$ 1.200 para carros populares.
Um rápido test drive pode revelar barulhos vindos da suspensão, resultado dos muitos quilômetros rodados sobre vias em mau estado de conservação. Ruídos e vibrações em excesso também representam despesas adicionais no curto prazo.
É importante observar ainda se há rangidos vindos do sistema de freios. Talvez seja necessário substituir as pastilhas, serviço que, por se tratar de desgaste natural, não é coberto pela garantia de fábrica.
Esses veículos rodam em centros urbanos, com freadas constantes em meio a congestionamentos. Essa condição pode configurar uso severo segundo a montadora, com necessidade de trocar o óleo em prazos mais curtos. Porém, os locatários tendem a realizar o serviço só nas revisões obrigatórias.
Para tirar a dúvida sobre lubrificação, é preciso mais uma vez consultar o manual e ver o que a montadora recomenda. O livreto serve também para conferir se a quilometragem passou por adulteração. O número do hodômetro deve ser compatível com os intervalos entre as revisões.
Se o manual com os registros das revisões não estiver disponível ou se não houver registros de visitas às oficinas autorizadas, melhor partir para outro carro.
FONTE: Folha de São Paulo