Movida: Reformulando para expandir
Estamos revisando nossas projeções de resultados para Movida (MOVI3), mantendo a recomendação de compra e reduzindo o preço-alvo para dezembro de 2024 para R$ 21,00 (antes R$ 23,00), o que representa um potencial de valorização de 96%.
Após a forte ampliação da frota nos últimos anos, vemos a MOVI diminuindo esse crescimento, se concentrando na geração de caixa e na redução da alavancagem. Adicionalmente, vemos a redução nos juros como um ponto importante na tese de investimento.
A redução do elevado custo de capital atual é um dos foco de atuação atuais da gestão.
Movida (MOVI3): Maior eficiência, reestruturação da frota e alavancagem
A MOVI vem adotando importantes ações para reestruturar sua frota e conseguir destravar valor em 2023. Na parte financeira vemos a companhia focada na redução da alavancagem e do custo de capital. A companhia liquidou antecipadamente cerca de R$3,3 bilhões de suas dívidas mais caras (custo médio de 140% do CDI), e a redução do ritmo do crescimento da frota permitiu diminuição de R$ 1,3 bilhão na linha de fornecedores.
Além disso, reduziu sua frota do RAC em 21 mil carros no primeiro semestre, adequando o mix da frota com mais carros básicos e menos modelos SUVs.
Estas medidas vêm aumentando a geração de caixa, à medida que veículos mais caros são repostos por modelos mais baratos.
No segundo trimestre de 2023, a companhia entregou ganhos de produtividade, aumentando a taxa de ocupação total no RAC para 71% (de 65% no 2T22), e melhorou o giro dos ativos reduzindo o prazo de implantação em 8 dias e de desmobilização em 5 dias.
Essas medidas tendem a se refletir em melhores margens nos próximos trimestres.
Riscos para a tese
O risco de execução operacional em MOVI com a mudança na frota para carros populares pode impactar negativamente o reajuste das tarifas e a ocupação da frota. Além disso, a desmobilização de carros seminovos é um risco operacional, visto que a companhia ainda possui um mix elevado de modelos SUVs e a demanda por estes modelos pode cair com a normalização da produção dos carros mais básicos e o cenário de crédito ainda difícil.
De forma geral, um corte mais lento da taxa SELIC pode impactar as empresas devido ao perfil alavancado, e uma redução na demanda do aluguel por fatores externos pode impactar a geração de caixa.
A MOVI passa por um momento de reorganização do negócio, com desaceleração do crescimento de frota, foco na redução da alavancagem e geração de caixa.
Reduzimos nossas estimativas de expansão de frota e receita, mas acreditamos que a companhia entregou um crescimento operacional forte nos últimos anos, e deverá voltar a crescer lucro líquido a
partir de 2024.
MOVI é uma das maiores do setor, e deve aproveitar a retomada na produção de veículos básicos para melhorar seu mix de frota e capturar maiores descontos com fornecedores, e assim aumentar o retorno
sobre o capital investido.
Seguimos vendo uma demanda robusta para o serviço de locação, o que deve permitir uma continuidade no reajuste das tarifas.
Adicionalmente, a companhia segue negociando com múltiplos descontados para 2024 de 8,5x P/E e 3,7x EV/EBITDA.
Frota e geração de caixa
A estratégia de crescimento de frota perseguida por MOVI durante o período de dificuldades de produção das montadoras (gargalos na cadeia de suprimentos durante e depois da pandemia), exigiu investimentos elevados. A produção de veículos neste momento se restringiu aos modelos SUVs, que tinham preços mais elevados de venda e eram mais rentáveis para as montadoras.
O aumento no endividamento ocorreu em momento de alta de juros, e o elevado custo de dívida
impactou o resultado de MOVI. Com a gradual normalização da produção de veículos, a companhia vem adequando sua frota para um mix ideal com mais carros básicos, o que tem gerado uma dinâmica de fluxo de caixa mais positiva no curto prazo, uma vez que os carros vendidos possuem um preço maior que os carros que estão sendo comprados.
Esperamos que a companhia siga nessa estratégia para reduzir a alavancagem, depreciação por carro e o custo de manutenção.
Depreciação e EBITDA de locação
Como consequência da estratégia de uma frota com carros mais básicos, a depreciação por carro no RAC já apresentou uma redução no 2T23, mostrando um ponto de inflexão da alta dos últimos anos. Assim, esperamos uma normalização na taxa de depreciação da atual de 10% a.a. para uma taxa entre 8% a.a., o que deve compensar o aumento nas taxas do GTF (que segue subindo devido ao ciclo mais longo dos contratos, de 30 meses em média vs. 15 meses no RAC) e auxiliar na recuperação do lucro líquido nos próximos anos.
Adicionalmente, a companhia tem focado no crescimento da gestão de frotas (GTF) e reduzindo frota do aluguel de veículos (RAC), o que deve promover uma maior geração de valor para o negócio uma vez que a margem do GTF é superior à margem do RAC (71% vs. 61% em um cenário normalizado).
Nesse cenário, as margens de “Seminovos” vem normalizando ao histórico, entre 1% e 2%, e o EBITDA de locação vem crescendo sua participação no consolidado, saindo de 77% no 1S22 para 90% no 1S23.
CAPEX e Alavancagem
Um ponto positivo do crescimento recente da frota foi a redução da idade média dos veículos que chegou a atingir 9 meses, frente à média histórica de 15 meses. Isso permitiu a MOVI frear o crescimento em 2023 e reduzir a frota, sem impactar a qualidade do serviço ou gerar custos maiores com manutenção.
A companhia reduziu significativamente o CAPEX líquido, liberando R$ 608 milhões de capital investido no 1S23, o que permitiu uma manutenção do spread ROIC vs. custo da dívida em 4,6 p.p. (vs. 4,9 p.p. no 1T23).
A Movida (MOVI3) tem feito uma gestão financeira mais positiva, liquidando antecipadamente as dívidas mais caras (~140% do CDI), o que deve reduzir gradualmente a linha de despesas financeiras. Com o freio no crescimento de frota e um menor custo de dívida, esperamos uma redução na alavancagem da companhia, e um aumento do spread ROIC vs. custo da dívida, acima dos 5 p.p.