Gastos com carro próprio cada vez mais elevados
Ter um carro próprio está ficando cada vez mais caro. Com o preço da gasolina chegando a R$6,20, além do pagamento de seguro, manutenções periódicas e eventuais multas, os capixabas avaliam a real necessidade de se comprar um automóvel. Dessa forma, o mercado de assinaturas e aluguéis surge como alternativa.
Élder enxerga inviabilidade no mercado automotivo
O empresário Elder Teixeira, 39, aderiu a essa modalidade. E explica que bastou uma rápida conta na ponta do lápis para optar pela assinatura. “O carro que escolhi para o contrato custa R$140 mil. Em dois anos [mesma duração do contrato assinado], ele deve desvalorizar R$39 mil. Fora isso, eu teria que pagar R$12 mil de seguro, R$10 mil de documentação. Além de ter que realizar umas cinco revisões nesse período, o que dá R$15 mil”, detalha.
No somatório de Elder, o custo já girava em torno de R$76 mil. “Só com esses gastos o valor já chega a quase 80 mil em apenas dois anos. No meu contrato, no mesmo período, eu pago pouco mais de R$60 mil, dividido em R$2.550 por mês”, compara.
O capixaba resolveu, então, vender o carro que tinha em seu nome e investir o dinheiro da venda em uma pizzaria, onde, segundo ele, poderia ter uma perspectiva de lucro muito maior. “No meu caso, comprar um carro de R$140 mil seria deixar um dinheiro totalmente parado em um bem depreciável”, justifica. No contrato, ele paga R$1,7 mil por mês.
Mercado e opções
O economista Mário Vasconcelos, especialista em educação financeira, comenta que o mercado automotivo, atualmente, não oferece boas opções de compra de um carro zero. Além da oferta escassa, a depreciação é outro fator que pesa na balança.
“Quando você compra um carro zero, a partir do momento em que você deixa a oficina, o veículo já depreciou cerca de 10% do valor pago. A pessoa adquire um bem que imediatamente já está se depreciando”, explica.
O especialista observa, assim como no caso da pizzaria de Elder, uma busca por outros investimentos. “A aplicação do dinheiro no mercado financeiro, por exemplo, pode render o valor que a pessoa paga mensalmente no aplicativo”, analisa.
A gerente comercial de um aplicativo de transporte, Caroline Milanez, aponta as vantagens do serviço. “As pessoas precisam de um carro, mas têm medo de investir na compra. Elas têm preferido pagar a mensalidade porque sabem que é um custo fixo, que não vai onerar, nem ter gastos extras”, indica.
Algumas vantagens no aluguel
“Em 2016, eu estava grávida da minha primeira filha e meu marido precisou fazer uma viagem a trabalho. Ele saiu de casa às 4h da madrugada e eu entrei em trabalho de parto às 7h da manhã”. Foi a partir desse fato inesperado que a empresária Milena Rohr, de 33 anos, decidiu, junto com seu marido, que a família precisaria de manter um carro à disposição das eventualidades.
Milena optou pelo aluguel para viagens a trabalho
Apesar de terem um carro próprio, o casal do município da Serra optou pelo aluguel de veículos para realizar as viagens a trabalho de longas distâncias, enquanto o carro pessoal ficou destinado para as demandas da Grande Vitória.
O serviço de locação é bem avaliado por eles. A última viagem de Milena, gestora empresarial que atende clientes de diversas partes do estado, foi a Linhares, em março deste ano. Ida e volta de sua casa ao município totalizaram R$150. “Eu pago o valor de meia diária [12 horas] e devolvo o carro do jeito que recebi, com o tanque cheio”, explica.
Em poucos meses, já foi possível perceber o impacto da alta nos preços do combustível. Em julho, o marido de Milena, engenheiro que presta consultoria inclusive para fora do estado, viajou de carro para Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Dos R$320 que gastou na viagem, R$120 foram referentes à diária cobrada pelo aplicativo. Enquanto R$200 foram de gastos com o reabastecimento do tanque de gasolina.
Alta na demanda e nos preços
Com o carro pessoal parado durante o período em que Milena e o marido trabalharam de home office, a volta ao volante causou espanto. “Fui atender uma cliente na Ilha do Boi, em Vitória, e coloquei R$50 de gasolina especificamente para esse atendimento. No consumo de quilometragem, ida e volta me custaram R$42”, relata.
Assim, quem depende do carro para trabalhar se divide entre a necessidade e o peso no bolso. O economista Mário Vasconcelos lembra da situação dos motoristas de aplicativos. Apesar da elevada demanda, eles não ficaram imunes à alta nos preços. “Hoje a gasolina acima de seis reais tem peso significativo. Especialmente para quem trabalha com carro, inclusive os próprios motoristas dos aplicativos”, destaca.
A gerente comercial de um aplicativo de veículo, Thaís Augusta, diz que da metade do ano passado até meados deste ano, o aumento foi de 150% a 200% na quantidade de assinaturas. Enquanto nos aluguéis, o crescimento superou os 200%. “O aumento ocorreu especialmente no atendimento de pessoas jurídicas diante do contexto de escassez de carros no mercado”, revela.
Especialistas aconselham, entretanto, uma autoavaliação da rotina na hora de decidir como se locomover. “A distância entre os pontos de deslocamento é um fator considerável. Vale a pena observar o local onde você mora e o local de suas atividades profissionais”, orienta Mário Vasconcelos sobre qual decisão tomar. “Em muitos casos, quem mora perto do trabalho às vezes opta pela bicicleta”, aponta o economista sobre outra opção cada vez mais recorrente.