Simpar (SIMH3): conheça uma das maiores holdings do país

Durante o século XX, o Brasil priorizou o desenvolvimento de rodovias como alternativa para transporte de cargas em detrimento de ferrovias.

 

O grande objetivo de nossos “líderes” era a integração de nosso país. O racional era simples: a popularização de automóveis (incentivada pela malha rodoviária) levaria a uma industrialização do país com polos automobilísticos (afinal, era a indústria do futuro).

O rodoviarismo teve origem com o presidente Washington Luís na década de 1920. Ao assumir a presidência, em 1928, inaugurou a primeira rodovia asfaltada do país, a Rodovia Rio-São Paulo. Além de rodovias, foi responsável pela criação da polícia rodoviária e do Fundo Especial para a Construção e Conservação de Estradas Federais.

Mas foi durante a administração de JK (Juscelino Kubitschek), ao final da década de 1950, que o rodoviarismo foi implementado com afinco. Em uma manobra política brilhante, JK conseguiu desenvolver um projeto que iria tanto incentivar o rodoviarismo, e por consequência o setor automobilístico, quanto afastar a capital da população: Brasília. Discussão sobre os méritos e deméritos desse projeto de cidade deixo para um futuro debate (ou me procurem para referências).

Contudo, é inquestionável que o projeto no quesito rodoviarismo foi bem-sucedido no desenvolvimento do setor automobilístico. Isso fica muito claro quando avaliamos as nossas indústrias listadas em bolsas de valores. Muitas são ligadas ao setor automobilístico: Fras-Le; Iochpe-Maxion, Mahle; Tupy; Randon, Marcopolo etc. (a lista é longa).

Mas como diz o ditado: “Na corrida do ouro, ficou rico quem vendeu pás e picaretas”. É assim que entra a história de um imigrante português, nascido em Ribeira de Alcalamouque, e que havia desembarcado em Santos em 1952:

Julio Simões veio ao Brasil para trabalhar com seu tio, Arthur, em uma empresa de transporte coletivo. Mas logo em 1956 (coincidentemente, o mesmo ano em que JK assumiu posse da presidência), Júlio comprou seu primeiro caminhão e abriu sua transportadora. Os anos foram passando e o sucesso do empreendedor foi crescendo. Aumentando sua frota, Júlio passou a atender Leon Feffer (já ouviu falar na Suzano?), mineradoras (como a própria Vale) e diversas outras empresas gigantes de nosso país (pensa em cerveja).

Hoje, a empresa que começou com um único caminhão transportador de frutas e legumes é a maior empresa logística do Brasil. Estou aqui para compartilhar um pouco da realidade de uma empresa que vemos tanto pelas estradas (caminhões JSL) ou pelos aeroportos (quiosques de Movida) em nosso país.

E partimos para o financês.

A Simpar:

Fundada em 1956, Simpar (SIMH3) possui mais de 65 anos de história, com presença em todo o Brasil e 5 países da América Latina e África do Sul. A empresa entrou no mercado de capitais em 2010 e desde então foi acelerando seu crescimento e trazendo novas empresas para dentro do grupo:

Simpar (SIMH3): conheça uma das maiores holdings do país. Durante o século XX, o Brasil priorizou o desenvolvimento de rodovias como alternativa...
Histórico de Simpar. Fonte: Simpar.

A companhia, que começou apenas com um caminhão, hoje conta com:

  • A JSL é líder no Brasil em logística rodoviária. A companhia conta com um portfólio robusto de serviços logísticos, mais de 25 mil colaboradores e mais de 50 mil caminhoneiros terceirizados. Hoje, a JSL possui presença em todo o Brasil, assim como no Peru, Chile, Bolívia, Argentina, Uruguai e África do Sul.
  • A Movida é a segunda maior locadora de veículos do Brasil. Possui a frota mais nova (menor tempo de utilização) e um ticket médio premium (mais alto) em comparação com os pares. Hoje a companhia já conta com mais de 200 mil carros, 216 lojas de aluguel e 81 lojas de seminovos.
  • Vamos é líder no mercado de locação de caminhões, máquinas agrícolas, linha amarela e empilhadeiras. Além do segmento de aluguel, possui a maior rede de lojas de caminhões seminovos. Hoje a companhia já ultrapassa mais de 33 mil ativos em sua frota para locação.
  • Automob é uma das maiores redes de concessionárias do país. Atua em todo o segmento automotivo, desde a venda de veículos novos e seminovos até a assistência técnica e financiamento. Está presente em 4 estados e em mais de 19 cidades, com o maior portfólio de marcas do Brasil.
  • CS Brasil é uma empresa de prestação de serviços a órgãos públicos e de economia mista. Parte de sua operação (CS Frotas) foi transferida para Movida em 2021, e atualmente ela mantém as operações de Gestão e Terceirização de Frotas com mão de obra.
  • CS Infra é uma empresa que explora concessões de longo prazo, administrando ativos como terminais portuários, rodovias e rodoviárias, além de contar com a Ciclus – empresa de tratamento de resíduos sólidos no Rio de Janeiro.
  • BBC, a mais recente no grupo, é um banco múltiplo que tem como objetivo o desenvolvimento do ecossistema de transportes e mobilidade.

As sete empresas estão organizadas sob o controle da holding Simpar, como ilustrado abaixo:

Simpar (SIMH3): conheça uma das maiores holdings do país. Durante o século XX, o Brasil priorizou o desenvolvimento de rodovias como alternativa...
Estrutura social de Simpar. Fonte: Simpar.

Hoje a empresa possui 71,9 por cento de participação na JSL, 65 por cento em Movida, 71,9 por cento em Vamos, 100 por cento da CS Brasil, 73,9 por cento da Automob, 100 por cento do BBC e 100 por cento da CS Infra.

Uma empresa em franco e rápido crescimento

Não é de hoje que a Simpar vem entregando crescimento. Olhando para as receitas da companhia desde 2010, a taxa de crescimento anual composto (CAGR) é de 20 por cento ao ano. A boa execução da gestão da empresa, alinhada com a estratégia de crescimento em mercados bastante pulverizados, permitiu que a Simpar se multiplicasse por 8x em pouco mais de 10 anos.

O crescimento de receitas nos últimos anos vem alinhado com um crescimento de margens, demonstrando a qualidade da gestão e a melhora de rentabilidade que a companhia vem entregando.

No gráfico abaixo, temos a evolução de Ebitda e da margem Ebitda da companhia nos últimos 10 anos:

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Histórico de Ebitda consolidado de Simpar. Fonte: Simpar & Nord Research.

*UDM = Últimos doze meses (considerando o 1T22)

Grande parte desse crescimento, especialmente nos anos mais recentes, é explicada principalmente por duas empresas do grupo: Movida e Vamos.

Ambas vêm entregando crescimentos muito fortes, acima das expectativas da própria Simpar. Abaixo, podemos ver os destaques financeiros das duas empresas:

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Histórico de receita, Ebitda e lucro de Movida. Fonte: Movida & Nord Research.

O que esperar do futuro?

Entender o histórico e a dinâmica de crescimento é fundamental, mas no final do dia, o que mais importa é o futuro da companhia.

No Simpar Day de 2022 (apresentação da companhia para o mercado em que compartilham metas e informações), a empresa adiantou o seu guidance de resultados em um ano. A meta, de alcançar 35 bilhões de reais em receitas para 2025, foi adiantada para 2024:

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Meta de receita de Simpar para 2024. Fonte: Simpar.

Para alcançar esse objetivo, Simpar tem feito investimentos relevantes em suas empresas (Capex). Juntando investimentos a uma melhora de rentabilidade (ROIC), é esperado que haja um crescimento de seus resultados. A imagem abaixo ilustra muito bem essa dinâmica de crescimento:

Simpar (SIMH3): conheça uma das maiores holdings do país. Durante o século XX, o Brasil priorizou o desenvolvimento de rodovias como alternativa...
Evolução de Capex, Ebitda e Roic de Simpar. Fonte: Simpar.

O uso desses investimentos, além de estar em seus maiores níveis, em nossa visão também está sendo muito bem endereçado. Dos possíveis 12 bilhões de reais que a companhia investirá em 2022, ~80 por cento será destinado para Movida e Vamos com o intuito de aumentar suas frotas para aluguel.

O remanescente deve ser usado principalmente em JSL, mas também nas demais empresas para acelerar o crescimento, tanto orgânico quanto inorgânico.

Os principais focos do grupo:

Movida – Muito próxima de superar suas expectativas

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Guidance para Frota de Movida em 2025. Fonte: Simpar.

O impressionante ritmo de crescimento que Movida vem apresentando mostra que há espaço para entregar ainda mais do que seu guidance de 260-340 mil veículos em 2025. Hoje (2T22) a companhia já possui mais de 200 mil veículos, ou seja, 77 por cento da meta já atingida.

Além do crescimento de frota, Movida se destaca dentre as grandes locadoras de veículos pela idade de sua frota. A companhia manteve um programa de renovação ativo durante a pandemia, e hoje possui uma média de 9 meses de idade em sua frota – trazendo benefícios como preços mais altos que os concorrentes e despesas menores com manutenção.

Vamos – Navegando pelo oceano azul

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Guidance de frota de Vamos para 2025. Fonte: Vamos.

Vamos possui um enorme potencial de crescimento. A companhia atua em um mercado praticamente novo no Brasil. A empresa, que hoje possui uma frota um pouco maior do que 30 caminhões e máquinas, espera alcançar o valor de 100 mil em 2025.

Um ponto muito importante é que mesmo chegando a esse número, a participação da companhia seria de apenas 3 por cento do mercado. Quando comparamos com países mais desenvolvidos, esse valor chega próximo dos 25 por cento.

JSL – Enorme mercado endereçável

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Guidance de frota de Vamos para 2025. Fonte: Vamos.

Simpar tem acelerado o crescimento de JSL por meio de aquisições. O mercado potencial é muito grande, mas o crescimento acaba sendo mais lento. A companhia tem uma participação muito pequena no mercado e possui muitos competidores. Para 2025, esperam alcançar 10,8 bilhões de reais em receitas. Olhando para o mercado endereçável, isso ainda representaria apenas 1 por cento.

Automob – Muito espaço para crescer

A Automob (antiga Original) vem tendo seu crescimento acelerado nos últimos meses, nos quais a companhia concluiu 3 aquisições que quintuplicaram as receitas da empresa (indo de uma receita de 800 milhões para 4,2 bilhões de reais).

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Composição da receita pós-aquisições. Fonte: Simpar.

Essas novas aquisições ainda não serão totalmente refletidas nos próximos resultados (apenas Sagamar estará no 2T22), mas devemos ver essa evolução ao longo do ano. Se já considerarmos as aquisições feitas hoje, o grupo vende aproximadamente 27 mil carros por ano, em um mercado que movimenta mais de 10 milhões de veículos:

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Potencial de mercado no Brasil para a Automob. Fonte: Simpar

Como referência, podemos sempre comparar a mercados mais desenvolvidos, afinal, a notícia de hoje lá é a nossa notícia de amanhã (amanhã = anos). Enquanto no Brasil o mercado de carros movimenta um pouco mais de 10 milhões de veículos por ano, nos EUA esse mercado já é superior a 59 milhões. A Autonation, empresa referência no ramo de venda de veículos norte-americana, tem por volta de 2 por cento desse mercado lá.

Imaginando um cenário competitivo similar (o Brasil possui mais concentração do que lá na maioria dos setores, somos referência mundial em oligopólios), podemos imaginar que Automob ainda tenha um potencial muito expressivo de ganho de participação de mercado.

As demais empresas de Simpar (CS Brasil, CS Infra e BBC) ainda não chegam a ser relevantes quando olhamos para o todo, mas seguiremos acompanhando o desenvolvimento de todas elas.

Projeções de crescimento

Como sempre procuramos destacar por aqui, no longo prazo, as cotações seguem os resultados. Não é diferente para Simpar:

O mercado projeta um crescimento bem interessante para Simpar nos próximos anos. Abaixo, na tabela, temos as estimativas com base no consenso de mercado:
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Resultado histórico e projeções de mercado para Simpar. Fonte: Bloomberg.

O crescimento de Simpar nos últimos anos tem sido impressionante. Olhando para o futuro, achamos que a companhia tem criado algo muito promissor. No Investidor de Valor, nós temos Movida, uma locadora de veículos e a maior empresa do grupo.

O texto acima não é uma recomendação de investimentos, é apenas um exercício prático que tem como objetivo estimular a análise fundamentalista.

Forte abraço,

Henrique Vasconcellos

Economista formado pela University of Notre Dame (EUA), iniciou sua carreira no Pátria Investimentos como analista de M&A buy-side. Atualmente é analista de renda variável da Nord Research.

 

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