Foto: Volkswagen/Divulgação
Mais de 800 funcionários das fábricas da Volkswagen, em Taubaté e São Bernardo dos Campos, em São Paulo, iniciaram férias coletivas nesta segunda-feira (27), de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos da Região (Sindimetau). Segundo a entidade, a paralisação é por causa da falta de peças e vai se estender por 10 dias. Essa é a sexta vez que as fábricas, que produz os modelos Gol e Voyage, anunciam férias neste ano.
“A montadora protocolou o aviso no último dia 10. No documento, a VW informou que as coletivas seriam para 2 mil trabalhadores, mas que poderia sofrer alterações. A medida será aplicada mais uma vez pela falta de componentes, principalmente de semicondutores, que vem sofrendo oscilações no fornecimento e dificultando a produção mundial de veículos”, informou, em nota, o Sindimetau.
Segundo a entidade, atualmente, há 15 mil veículos parados no pátio da fábrica em Taubaté esperando peças para serem concluídos. O número de funcionários em férias coletivas, de acordo com o sindicato, equivale a um turno de produção. A data prevista para retorno dos trabalhadores é dia 7 de outubro. “Já foram registrados (neste ano) 11 dias de ‘shutdown’ e mais cinco dias de ‘day off’ (ambos com utilização do banco de horas) por falta de peças”, acrescentou a entidade em comunicado enviado à imprensa.
A reportagem de O Tempo entrou em contato com a montadora que confirmou as paralisões devido a falta de insumos. Das quatro fábricas da empresa no Brasil apenas duas operam normalmente, a de São José dos Pinhais, no Paraná, e a de São Carlos, em São Paulo.
“Nos últimos meses, o time da Volkswagen América Latina tem trabalhado intensamente, em parceria com a matriz e fornecedores, para minimizar os efeitos da escassez de semicondutores para a produção em suas fábricas na região. Entretanto, o cenário atual não demostra o encaminhamento para uma solução definitiva visando a normalização do fornecimento de chips”, informou a Volkswagen.
Falta de veículos
Com o desabastecimento enfrentado pelas montadoras, atualmente, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), há apenas 76,4 mil veículos em estoque no Brasil. O número é suficiente para apenas 13 dias de vendas. A entidade diz que esse é o pior nível em duas décadas.
Só no último mês, 11 fábricas automotivas tiveram paralisações totais ou parciais, com isso, o setor produziu 21,9% menos na comparação com 2020, quando ainda não havia falta de insumos.
“O que está acontecendo é que as montadoras não têm componentes elétricos, chips e display multimídia. Tem uma demanda muito alta desses insumos para a indústria eletrônica por conta do home office, além disso, os maiores fabricantes desses semicondutores estão com problemas. A Malásia está enfrentando fechamentos recentes por conta de surtos de Covid e no Japão, a maior fábrica pegou fogo”, explica o consultor associado da Bright Consulting, Cássio Pagliarini, que prevê a melhora do cenário somente a partir de 2023.
“A pandemia fez com que todos os insumos subissem o preço. O aço, o alumínio, a borracha, todos os derivados do petróleo foram impactados. A questão é que não foi as vendas que aumentaram, não tem é carro no mercado. A tendência é que a situação piore, com as atividades retornando, as pessoas vão voltar a gastar com lazer e esse dinheiro que muitos estão investindo em carro, vai sumir do mercado, as vendas vão cair com os preços altos”, avalia Pagliarini.
Com preços cada vez mais altos, fruto do combo formado por falta de peças e componentes, aliado ao aumento de custos, inflação e dólar alto, os carros novos já subiram 14% no Brasil nos oito primeiros meses deste ano. Quando o assunto é seminovo, a situação é ainda pior. Segundo o IPC-Fipe, neste ano, os modelos usados já ficaram 20,8% mais caros, enquanto a inflação avançou 6,06% em 2021.
“Isso causa falta de veículos no mercado. As concessionárias estão trabalhando de 40% a 60% de seu estoque, isso gera uma demanda super aquecida, faltando produtos. Isso tem acontecido em todas as marcas, que estão trabalhando com pedidos com prazo de 45 a 60 dias”, pontua o vice-presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG), Mauro de Moraes Filho.
“Estamos enfrentando ainda uma crise de logística portuária, a entrega tem demorado muito, falta navios e containers”, analisa.
Fonte: O Tempo