A geração #NãoPrecisoDeCarro
A Geração Millenials tem causado dores de cabeça para os fabricantes de automóveis. As montadoras não conseguem entender porque essa geração, nascida entre 1980 e meados da década de 90, tem pouca ou nenhuma vontade de possuir um carro. Os interesses e prioridades dessa geração foram redefinidos nas últimas duas décadas, deixando automóveis em segundo plano e abrindo espaço para novas ideias de mobilidade urbana.
Entre 2007 e 2011, o percentual de veículos novos vendidos a clientes entre 18 e 34 anos caiu quase 30% nos Estados Unidos. Muitos argumentam este é o resultado de uma economia fraca e que é difícil, para esta geração, assumir as parcelas de um carro junto com os gastos da faculdade. Mas esse não é o fator principal, principalmente se você considerar que a maior parte dos jovens possui smartphones, notebooks e outros gadgets que juntos somam um gasto mensal com créditos, internet e outros serviços que quase se comparam ao valor de uma parcela de um veículo popular.
O que as montadoras não perceberam é que os Millenials não associam mais carros à valores como liberdade, independência e individualidade, que fizeram parte de toda uma estratégia de vendas para a geração precedente. Esta nova geração está estabelecendo identidades, relacionamentos e individualismo durante todo o dia com o auxílio da internet e de dispositivos móveis. Outra causa da queda das vendas se dá pelo aumento da popularidade do compartilhamento de veículos, um ramo do consumo colaborativo, tendência que ganhou força nos últimos anos devido a novas tecnologias que permitiram escalonar e simplificar o processo de compartilhamento através da internet.
Antes da internet, compartilhar uma prancha de surfe, um carro ou uma vaga de garagem era plausível, mas usualmente dava muito trabalho e não compensava o esforço. Hoje em dia, serviços como Airbnb, RelayRides e ZipCar (os dois últimos ainda não atuam no país, mas já existem serviços similares) conectam donos e locatários; smartphones com GPS possibilitam saber onde está estacionado o carro alugável mais próximo; redes sociais oferecem uma maneira de conhecer as pessoas e criar confiança; e sistemas de pagamento online cuidam da cobrança. Impactos econômicos e ambientais Esse consumo colaborativo é bom por muitas razões. Donos fazem dinheiro com bens subutilizados: existem mais de um bilhão de veículos na rua em todo o mundo, sendo que a maioria deles ficam parados 22 horas por dia.
Alugar o carro em momentos que você não o utiliza, gera dinheiro que pode ajudar a pagar o combustível, impostos e manutenção do veículo. Quem aluga, por outro lado, paga menos do que se ele mesmo tivesse comprado um automóvel, ou recorrido a uma empresa tradicional de locação de veículos. E existem benefícios ambientais também: ao alugar um carro somente quando você precisa, significa que é preciso fabricar menos automóveis, logo menos recursos naturais precisam utilizados.
A empresa de consultoria AlixPartners entrevistou 1.000 motoristas nos Estados Unidos para entender quais são as motivações das pessoas no uso de serviços de compartilhamento de carros e qual o seu efeito na venda de veículos novos. As conclusões são alarmantes para as montadoras e boas para o meio ambiente. Cada carro que é compartilhado evita a compra de 32 novos veículos. A empresa estima que existam 500 mil veículos a menos nas ruas americanas devido ao aumento da popularidade dos serviços de compartilhamento. Já aqui no Brasil, um estudo da KPMG mostrou que 60% dos entrevistados acreditam que entre 6% e 15% dos brasileiros vão utilizar serviços de compartilhamento de carros nos próximos 15 anos.
Do ponto de vista ambiental também há impactos consideráveis. A City CarShare, uma organização sem fins lucrativos que possui mais de 400 veículos para compartilhamento na região da baía de São Francisco, EUA, estima que entre 2001 e 2012 foi evitada a emissão de 147 mil toneladas de CO2 na atmosfera devido ao uso dos seus carros compartilhados. Carsharing e confiança nos serviços A prática de carsharing (compartilhamento de carros) ainda é similar à experiência de realizar a primeira compra online há 15 anos. Na época as pessoas estavam preocupadas com a segurança, mas tendo feito uma compra bem sucedida elas se sentiam seguras para comprar em outro lugar. Da mesma forma, ter uma boa experiência com um serviço de compartilhamento de automóveis na primeira “compra”, incentiva as pessoas a utilizar o serviço outras vezes.
Carsharing no Brasil
Algumas empresas já estão implementando as tecnologias e parcerias necessárias para poularizar o carsharing entre os jovens brasileiros. Um exemplo mais tradicional é a ZazCar que no momento atua somente em São Paulo e funciona no mesmo modelo que a americana ZipCar. A empresa possui uma frota de veículos espalhados pela cidade que podem ser alugados por hora. O cliente faz a reserva pela internet e se dirige a um dos locais de retirada. Destrava as portas do carro com um cartão RFID e utiliza o veículo durante as horas reservadas e o devolve ao final do período no mesmo local onde retirou. O combustível e seguro estão inclusos no aluguel.
Outro exemplo é o Fleety, que escolheu a cidade de Curitiba para inaugurar o seu serviço de carsharing peer-to-peer (P2P). O serviço permite que indivíduos compartilhem seus carros pessoais diretamente com outras pessoas. No caso do Fleety, uma plataforma mobile conecta quem precisa de um veículo com quem quer ter uma renda extra alugando seu próprio carro. Os proprietários cadastram seus carros no website e indicam os dias em que o veículo estárá disponível, assim como o preço por hora ou dia. Já quem quer alugar envia uma proposta para o dono do veículo. Ao receber uma proposta de aluguel, o proprietário tem autonomia para decidir se vai alugar o carro ou não.
O resultado é que quem aluga o carro gasta menos do que num aluguel tradicional e o dono do veículo ganha dinheiro com o carro que estaria parado na garagem. O seguro do serviço cobre todo o período da locação. A startup aposta principalmente no público jovem já que esta geração não valoriza tanto o carro próprio e tem maior flexibilidade para utilizar novos serviços. A verdade é que os Millennials utilizam a tecnologia em todos os aspectos de suas vidas, desde se conectar com amigos e família até na realização de tarefas profissionais. Seus smartphones e tablets são seus bens mais preciosos, e tem um valor muito maior do que possuir um carro. É por isso que o mercado de consumo colaborativo cresce tanto entre os jovens. Não sentir mais a necessidade de serem definidos pelos seus carros, mas sim pelo que dizem, compartilham, capturam e criam pode até ser um sinal de maturidade desta nova geração de consumidores. E além disso, é proibido dirigir utilizando o celular.
Por André Sionek, do Polyteck.