Em quatro anos, Inovar-Auto melhora carros, mas preço sobe
-
Murilo Góes/UOL
Volkswagen up! TSI é exemplo de veículo moderno: seguro e extremamente eficiente
O Inovar-Auto é o exemplo puro de excesso de intervenção governamental na indústria automobilística. Pode ter havido intenção de fortalecer o setor ao criar obstáculos para quem não produz localmente, mas a estratégia acabou por produzir uma legislação complexa e difícil de implementar.
O marco legal começou em 2011 e incluiu incentivos para inovação. Foi preciso editar duas leis, quatro portarias e um decreto ao longo de quatro anos para um programa que, teoricamente, termina em 2017.
Apesar do viés protecionista e questionado por organismos internacionais, sempre é bom lembrar que o México tem uma lei mais direta: só pode importar quem produz localmente. Mas sabe-se que o “jeitinho” mexicano também apareceu por lá e o número de acordos comerciais multilaterais ajudaram. Aos poucos, atraiu várias fabricantes — a última foi a Kia — para se tornar o maior produtor de veículos da América Latina. Em razão da crise atual, o Brasil verá o México (com o mercado dos EUA escancarado para eles) ainda mais à frente por muitos anos, apesar de nosso potencial grande mercado interno.
Veículos mais eficientes: ponto positivo
Exigência de melhor eficiência energética, embutida no Inovar-Auto, é realmente um ponto indiscutivelmente positivo. Os fabricantes terão que demonstrar, a partir de outubro de 2016, que atendem a meta mínima de redução de 12,08% no consumo de etanol e gasolina sobre a média dos veículos à venda de cada marca, tendo como referência… 2011. As multas em caso de descumprimento são altíssimas e, assim, todos deverão se ajustar.
Com a fase atual de preços altos de combustíveis, essa é boa vantagem para os consumidores na hora de abastecer. Também exigirá das fábricas, especialmente as que produzem modelos de maior porte (picapes e SUVs), um acerto fino da produção para se manterem dentro da média obrigatória de economia. Vendas adicionais de modelos menores terão que compensar eventuais desajustes. Talvez signifique crescimento na procura por modelos com motor 1.0.
Mas há um problema adicional nessa adequação. A indústria domina várias tecnologias para menor consumo, mas tem que manter preço competitivo em momento de forte recessão no mercado.
Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) apresentou estudo recente, feito na Austrália, que compara os valores de custo de cada recurso técnico com o respectivo potencial de economia de combustível. A análise inclui não somente motores, mas itens de carroceria (aerodinâmica, peso), acessórios (direção, pneus) e tipos de caixas de câmbio. A pesquisa ainda demonstra uma equação bastante complexa e cada fabricante monta um verdadeiro quebra-cabeça. Considera o dólar australiano em R$ 2,67, a preço de custo (sem impostos ou margem de lucro) e não de venda. Um veículo híbrido consegue 45% de economia por menos de R$ 10 mil. Um elétrico compacto economiza 100% de combustível, mas seu custo é de R$ 35 mil — ou 250% mais caro de produzir sem incentivo fiscal. Esta é uma das maiores dificuldade para a aceitação do carro elétrico. A diferença de custo entre um motor turbo simples, com 7% de economia, e um turbo com todos os recursos, para economizar 20%, chega a 450%.
Fonte: UOL Carros