Montadoras exibem carros 'verdes' no Salão de Detroit, mas priorizam jipões
Herbert Diess, alto executivo do grupo Volkswagen, entra no palco sem gravata e sorridente. Cabe a ele apresentar o ID Buzz, carro conceitual que remete à Kombi e rouba a cena no Salão de Detroit. Atrás do protótipo, a expressão “Electrify America” (“eletrificando a América”) se destaca no telão.
Como todo “showcar” dos dias de hoje, a van do futuro é elétrica e conectada -e mais um exemplo do que tem ocorrido em todos os grandes eventos automotivos da década. Carros que parecem projetados na Terra do Nunca são exibidos com pompa, mas têm lançamento incerto. A realidade está ao lado, personificada no jipão Atlas.
O novo utilitário americano da Volkswagen tem cinco metros de comprimento e motorzão 3.6 V6 (280 cv) nas versões mais caras. A opção 2.0 turbo (240 cv) tem preço inicial que equivale a R$ 96 mil. Com certeza, é bem menos do que custaria uma Kombi elétrica nos dias de hoje.
Detroit confirma a estratégia das fabricantes: exibir veículos que mexam com a emoção do grande público e despertem mais simpatia por tecnologias “verdes”, para depois conseguir lucrar com grandes volumes de vendas. Esse é o caminho para reduzir custos e, quem sabe, o preço final ao consumidor.
“Em 2025, queremos vender um milhão de carros elétricos por ano, tornando esse tipo de mobilidade a nova marca comercial da Volkswagen”, disse Diess ao apresentar o Buzz. Segundo ele, o primeiro modelo da família ID, um derivado do Golf, será lançado em 2020. “Serão acessíveis a milhões de pessoas, e não apenas para milionários”, afirmou o executivo.
Salão de Detroit 2017
CARRO DO ANO
O que ocorre na Chevrolet não é muito diferente, embora a empresa tenha o mérito de ter levado um carro elétrico às ruas americanas, o compacto Bolt. Seu preço equivalente a R$ 120 mil (sem os descontos legais dados a carros que não poluem) é proibitivo para o americano médio.
Contudo, a iniciativa rendeu um prêmio inédito para a mobilidade limpa: o Bolt foi eleito o carro do ano por jornalistas dos EUA e do Canadá. Entretanto, isso não foi o suficiente para desviar as atenções de outro jipão luxuoso que chega às lojas com preço mais atraente que o carrinho de emissão zero.
O novo Chevrolet Traverse, um utilitário tão grande quanto o Atlas, estreia nos Estados Unidos neste primeiro trimestre. Seus preços devem partir dos mesmos R$ 96 mil pedidos pelo concorrente.
Esse choque de sonho e realidade é a marca da edição 2017 do Salão de Detroit, que ocorre em meio à apreensão pelos rumos que serão dados pelo presidente eleito, Donald Trump, e à euforia de um recorde de vendas. Foram comercializados 17,5 milhões de automóveis nos EUA em 2016.
O evento está aberto ao público até o próximo domingo (22), no pavilhão de exposições Cobo Center, região central de Detroit.
O jornalista viajou a convite da Chevrolet do Brasil
Fonte: Folha de S.Paulo