Por que ‘era de ouro’ de locadoras na venda de carros seminovos acabou

Os mais engajados no mercado automotivo certamente já ouviram em alguma roda de conversa que as locadoras de veículos lucram mais com a venda de carros seminovos do que com o próprio aluguel.

 

Em uma economia pré-pandêmica, a máxima fazia algum sentido: em 2019, a revenda representava entre 51% e 60% do faturamento bruto das três maiores locadoras do Brasil – Localiza, Unidas e Movida.

No último mês, cerca de 32% dos veículos comercializados no país foram vendidos para locadoras. O setor de locação de veículos emplacou 223.967 mil novos carros no primeiro semestre de 2022, segundo dados da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (ABLA). Mesmo com números atrativos quando o assunto é renovação de frotas, a revenda desses carros não é mais tão rentável como há três anos.

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O consultor automotivo Ricardo Bacellar explica que a pandemia, a paralisação das linhas de produção e a falta de peças para construir automóveis embaralhou todas as cartas.

“Quando olhamos os números e vemos as vendas diretas em alta, parece um déjà vu de 2019, mas o cenário é outro. Na época, as locadoras tinham um poder de compra muito grande, pois faziam negociações enormes e as montadoras precisavam desse mercado para vender seus estoques. Elas compravam carros com descontos gigantes, tinham isenção de impostos, giravam na locação por 12 meses e depois vendiam por preço mais alto do que custou. Muitos pontos de locação se transformaram em revendas de automóveis”, conta Bacellar.

Além dos descontos para venda direita, as locadoras também têm outro benefício: conforme as normas contábeis, as vendas de ativos permanentes das empresas (carros seminovos) devem ser feitas sem incidência de ICMS.

Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, explica que o contexto hoje é diferente: as locadoras não têm mais o poder de outrora. Isso porque, com a queda brusca nos estoques de carros disponíveis, o varejo – fatia de mercado com maior rentabilidade – foi privilegiado.

“Isso gerou uma demanda reprimida por carros muito grande entre as locadoras. Com aumento de preço gigantesco e ajuste do estoque, as montadoras voltaram a negociar mais com as locadoras a partir de maio, o que explica o aumento nos números. Mas não mais com as mesmas condições. Ainda há descontos, mas nada tão vantajoso como antes”, informa.

Segundo Pagliarini, entre 2018 e 2019, época de ouro dos seminovos de locadoras, os descontos chegavam a 30%, quase o dobro da margem de um concessionário sobre um carro.

Desesperados por novos carros

Se há poucos anos as locadoras salvavam o mercado automotivo brasileiro a ponto de comprarem veículos com quase um terço de abatimento, o cenário hoje é de mais cautela. De acordo com o conselheiro gestor da ABLA, Paulo Miguel Júnior, se não fosse a pandemia, hoje a frota das locadoras de veículos no Brasil seria de 1,7 milhão de carros, mas está na faixa de 1,2 milhão, o que expõe uma demanda reprimida de 500 mil automóveis novos.

“Hoje estamos com a frota envelhecida, na faixa de 30 meses, quando o ideal é entre 15 e 18 meses. Com a redução das vendas para o varejo, tem sobrado mais carros para a venda direta, mas o momento não é tão favorável, os descontos são menores, entre 6% e 12%”, informa.

Preço do seminovo vai baixar

A revenda de carros por parte das locadoras não é tão vantajosa quanto anos atrás, mas segue sendo um negócio, já que as empresas precisam renovar suas frotas. Além disso, continuam comprando carros com desconto – ainda que menor – e com isenção de alguns impostos. Ricardo Bacellar explica que é natural que a venda de carros para locadoras cresça no segundo semestre do ano, por isso, também é esperado que as empresas ponham mais seminovos à venda, mas há um detalhe.

“Estamos falando de um altíssimo número de carros usados no mercado, o que certamente impulsionará o preço desses veículos – com exceção de modelos mais concorridos – para baixo. A chegada desses carros às lojas vai mexer com os valores dos carros seminovos”, alerta.

Fonte: uol.com.br
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