Por que o setor automotivo estaria um fracasso se não fossem as locadoras

O último ano representou uma frustração de expectativas para o mercado automotivo brasileiro.

 

Em janeiro, a previsão era de que o número de vendas aumentasse 8,5% em relação a 2021. Em julho, a projeção baixou para 1% de alta em comparação ao ano anterior, mas o desfecho foi de quase 1% de queda nas vendas de automóveis e comerciais leves – que engloba picapes e furgões. O detalhe é que, se não fossem as locadoras, o cenário seria ainda mais devastador.

É importante lembrar que o ano de 2022 teve dois entraves grandes para a indústria automotiva: logo no início do ano, os brasileiros passaram por uma alta nos casos de covid-19. Além disso, no primeiro semestre, as fábricas ainda enfrentavam a escassez de peças para a produção de carros, faltando produto nas lojas. Por outro lado, o alto preço dos veículos também afastou muitos consumidores do zero-quilômetro, principalmente na segunda metade do ano.

Nesse cenário, as locadoras salvaram o setor de um fracasso total, com sobra de produção ou até mesmo necessidade de reduzir suas operações fabris. As empresas de aluguel de carros compraram, ao longo do ano passado, o total de 590.520 automóveis e comerciais leves, o que significa 30,1% dos 1,954 milhão de unidades vendidas em 2022.

O investimento em frota chegou a R$ 55,2 bilhões, conforme o Anuário Brasileiro do Setor de Locação de Veículos.

Em média, o investimento das locadoras por unidade foi de R$ 93,6 mil.

No ranking de emplacamentos de automóveis e comerciais leves, a Stellantis ficou com o primeiro lugar, vendendo 35,8% (211 mil carros) do total comprado pelas locadoras em 2022. Em seguida aparece a Volkswagen, com 16,6% (97.974 unidades). O modelo mais emplacado por locadoras em 2022 foi o Volkswagen Gol, com 45.796 unidades.

Pela primeira vez, a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA) também apresentou o recorte de compras em relação aos híbridos e elétricos. Em 2022, as locadoras emplacaram 3.309 unidades com tais motores, em um crescimento de 88,9% na comparação com as compras de híbridos e elétricos feitas no ano anterior (1.751 veículos).

A expansão também aconteceu em relação à frota total de automóveis e comerciais leves das locadoras. O setor terminou 2022 com 1.434.299 unidades na frota, que assim cresceu 26,2% em relação ao ano anterior. O total de híbridos e elétricos na frota das locadoras chegou a 5.684 unidades.

Demanda reprimida

Em relação a 2021, ano em que as fábricas passaram mais tempo fechadas por falta de componentes, em 2022, as locadoras aumentaram em 33,6% a compra de automóveis e comerciais leves. O motivo de tanto “consumismo” é a necessidade de sanar a demanda que ficou reprimida desde o início da pandemia.

Em entrevista o conselheiro gestor da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (ABLA), Paulo Miguel Júnior, disse que se não fosse a pandemia, em agosto de 2022, a frota das locadoras de veículos no Brasil seria de 1,7 milhão de carros, mas estava na faixa de 1,2 milhão, uma demanda reprimida de 500 mil automóveis novos.

“Hoje [agosto de 2022] estamos com a frota envelhecida, na faixa de 30 meses, quando o ideal é entre 15 e 18 meses. Com a redução das vendas para o varejo, tem sobrado mais carros para a venda direta, mas o momento não é tão favorável, os descontos são menores, entre 6% e 12%”, disse à época.

Compra não foi na base da barganha

Tradicionalmente, as locadoras recebem descontos das montadoras, já que compram um alto volume de carros. No entanto, os abatimentos estão mais tímidos do que no passado, quando chegavam até 30% do preço do carro. Além disso, as locadoras também têm direito à alíquota diferenciada do ICMS, como outros beneficiários da venda direta.

Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, explica que o contexto em 2022 era diferente: as locadoras não tinham mais o poder de outrora. Isso porque, com a queda brusca nos estoques de carros disponíveis, o varejo – fatia de mercado com maior rentabilidade – foi privilegiado.

“Isso gerou uma demanda reprimida por carros muito grande entre as locadoras. Com aumento de preço gigantesco e ajuste do estoque, as montadoras voltaram a negociar mais com as locadoras a partir de maio, o que explica o aumento nos números. Mas não mais com as mesmas condições. Ainda há descontos, mas nada tão vantajoso como antes”, informa.

Fonte: uol.com.br
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