Crise de semicondutores vai afetar locadoras em 2023?

A despeito da desaceleração econômica, aumento do custo de capital e sumiço dos semicondutores, o setor de locação de veículos ainda é um dos mais queridos pelo mercado.

As duas empresas do segmento listadas – Localiza (RENT3) e Movida (MOVI3) – têm recomendações de compra pela maior parte dos analistas do mercado, segundo dados compilados pelo TradeMap.

Independentemente do nível de otimismo com o setor, que passa pelo aumento do turismo doméstico, da renda per capita e alcance da penetração do mercado americano, ainda há a preocupação com os semicondutores.

De acordo com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), cerca de 250 mil veículos não foram produzidos no Brasil em 2022 por conta da escassez de chips ao redor do mundo.

Com o passar do tempo, os semicondutores passaram a ser utilizados não somente em veículos e maquinário de grande porte, mas também em objetivos do dia a dia, com o advento da IoT (internet das coisas).

Além disso, a Covid-19 consolidou o trabalho remoto, alavancando a demanda por itens de tecnologia de uso pessoal.

O problema relacionado aos semicondutores, entretanto, já vem desde o pré-pandemia. China e Estados Unidos travam uma guerra comercial desde o final da década passada, o que levou ao boicote da produção ocidental de um lado, enquanto do lado americano houve tarifas sobre importações.

As tensões ganharam força com o tempo, com Taiwan, Estado independente da China e apoiado dos Estados Unidos, passando a produzir 90% dos semicondutores de ponta.

Qual é a atuação situação dos semicondutores

No consolidado do ano passado, a receita global dos semicondutores cresceu 1,1%, para US$ 601,7 bilhões, de acordo com a consultoria sobre tecnologia Gartner.

A importância desse item na produção global de componentes tecnológicos tem crescido aceleradamente, mas a limitada capacidade de produção impede um maior desenvolvimento da indústria.

No ano passado, o crescimento tímido de 1,1% foi marcado por prazos de entrega alongados e inflação de preços. O faturamento global considera o desempenho das 25 maiores fornecedoras de semicondutores do mundo.

A perspectiva é de gradual melhora. Um estudo realizado pela Accenture aponta que a maior parte das empresas do setor espera que os gargalos na cadeia de suprimentos do segmento recuem até 2024.

Dos 300 executivos ouvidos, entretanto, quase metade deles entendem que as crises geopolíticas são entraves para o desenvolvimento da indústria e representam riscos, o que pode deixar em aberto novos investimentos em produção em vias das incertezas globais.

Momento das locadoras

A escassez de semicondutores acabou afetando também o setor de locação, pois as locadoras precisam comprar carros para renovar suas frotas e, se as montadoras não conseguem produzir no mesmo ritmo, a oferta de automóveis no mercado diminui.

Não por acaso, a idade média dos carros oferecidos pelas locadoras a seus clientes foi ficando maior, diminuindo a qualidade dos serviços.

No caso da Localiza, a idade média da frota total operacional saiu de 11,7 meses para 17,1 meses entre 2020 e o terceiro trimestre de 2022. Na Movida, há maior controle, saindo de 9 meses para 9,1 meses na mesma comparação — após ter chegado a 11,7 meses em medos de 2021.

A situação, no entanto, tem melhorado aos poucos, uma vez que a escassez de semicondutores também já não é mais tão grave.

No segundo semestre do ano passado, a Anfavea apontou que enxerga uma “melhora substancial” na oferta de semicondutores em termos globais.

E estudos indicam que a crise dos semicondutores deve arrefecer definitivamente em 2024, embora o ano de 2023 parece ser ainda de normalização da cadeia produtiva.

Sinal disso é que o mercado deve ficar mais aquecido ao longo de 2023, ao menos para as locadoras de veículos. Segundo a associação, as montadoras projetam vender 500 mil veículos neste ano apenas para as empresas de locação que operam no país.

Portanto, uma eventual baixa adesão a novos emplacamentos no Brasil se daria não por falta de carro para as locadoras, mas pelos desafios domésticos, relacionados ao custo do financiamento para pessoas físicas (que representam 35% das vendas no Brasil), e não necessariamente ao impacto dos chips.

No terceiro trimestre do ano passado, a Localiza registrou a adição líquida de 52 mil veículos, surpreendendo o mercado com um custo 8% menor se comparado ao mesmo período de 2021.

Com a conclusão da fusão com a Unidas, a empresa se tornou o disparado maior player do mercado, ampliando a capacidade de barganha com as montadoras, tanto em termos de preço como de mix de veículos.

Mesmo com a cisão dos ativos e alienação da marca para um competidor – o que manteve a Unidas como uma das três maiores empresas do setor – a empresa se mantém ativa no mercado.

A compra líquida de veículos entre julho e setembro do ano passado superou a venda de carros exigida pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para que a aquisição da concorrente fosse realizada.

A perspectiva para os números do quarto trimestre é de nova aceleração da frota para fazer frente à alta temporada no turismo, mesmo que a rentabilidade sobre capital investido diminua ao longo de 2023 em função do arrefecimento com a atividade de seminovos.

No caso da Movida, as perspectivas macroeconômicas naturalmente também são negativas e o mercado vem exprimindo essa visão de forma intensa nos papéis da empresa.

Os investidores enxergam que a empresa, assim como a Localiza, sofrerá com a pressão de margens no segmento de seminovos, mas também tende a ser fortemente impactada pela depreciação dos ativos e queda do lucro.

A empresa tem o guidance de atingir o patamar de 260-340 mil carros até 2025. No terceiro trimestre do ano passado, eram 213 mil carros na frota total. Em seu Dia do Investidor, realizado no final do ano passado, a empresa manteve a projeção.

Para que consiga atingir o teto do guidance, a companhia terá de continuar realizando compras de veículos zero em velocidade acelerada. Inclusive para equilibrar o mix de padrão de carros, que hoje está mais voltado a SUVs.

De acordo com a empresa, a diferença entre o valor dos veículos comprados e os vendidos na operação de seminovos é de R$ 5 mil. Patamar ainda saudável e que não deve pressionar o endividamento da empresa no curto prazo.

A pressão sobre as ações de Localiza e Movida, assim como a dificuldade de crescimento das menores empresas do setor, diz respeito principalmente à dinâmica concorrencial agressiva do segmento. E à difícil rentabilização sobre o capital investido com a taxa de juros em 13,75% ao ano.

Embora os semicondutores permaneçam no radar dos investidores, não é mais a principal pauta na tese de investimento no setor. E, ao longo de 2023, o foco ficará voltado a outros temas de maior relevância no momento.

Fonte: trademap.com.br

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