Oferta de veículos cria riscos, mas mercado deve seguir forte
Após apresentar crescimento anual de 99% no lucro líquido do primeiro trimestre, a R$ 110 milhões, a Movida (SA:MOVI3) está otimista com seu desempenho e com o mercado de locação de veículos.
Horas antes da divulgação dos resultados, no fechamento do mercado desta terça-feira (27), o papel tinha baixa de 0,88%, a R$ 16,99 – seguindo a direção do Ibovespa, que terminou o pregão em baixa de 1%, aos 119.388,37 pontos.
Apesar do último ano desafiador, em que medidas de restrição para combater a disseminação do coronavírus impactaram o setor, a companhia vê força na demanda, impulsionada por mudanças de hábitos, como a troca de transporte coletivo e de aviões por carros, e pela expansão de setores menos explorados, como a gestão de frotas e o aluguel de longo prazo.
Há, no entanto, desafios. No trimestre, apesar de ter alcançado ticket médio e margem bruta recordes, a venda de veículos seminovos ficou abaixo da média para a empresa. Ainda que parte disso faça parte da estratégia de crescimento da Movida, a baixa oferta de veículos, decorrente de problemas de produção das montadoras, pesou e coloca mais desafios no horizonte.
Outra questão que pode impactar significativamente a Movida é uma possível fusão entre suas duas principais concorrentes, a Localiza (SA:RENT3) e a Unidas (SA:LCAM3). Sobre o tópico, a companhia optou por não comentar.
Para além do lucro, outros números que se destacaram no balanço da companhia, divulgado na terça-feira (27), foram a receita consolidada de R$ 805 milhões, o Ebitda de R$ 305 milhões e a frota total de 124 mil carros.
Leia abaixo a entrevista com Edmar Lopes, diretor financeiro da Movida.
Investing.com – Quais foram os destaques do balanço?
Edmar Lopes – Estamos bem felizes. Os últimos 12 meses foram, no mínimo, complexos. Acho que a grande mensagem é a seguinte: primeiro, a empresa deve sair mais forte do que entrou nesse processo de pandemia. Aprendemos a fazer coisas de maneiras diferentes, aceleramos as iniciativas digitais… Ficamos felizes com isso tudo, porque, de novo, estamos melhores hoje do que estávamos há um ano.
O segundo aspecto, também positivo, é a questão do mercado do aluguel de carros, que teve um primeiro momento muito complexo e duro, com um nível de incerteza alto, mas que já no segundo semestre do ano passado mostrou uma forte recuperação, que continuou agora no primeiro trimestre. Perdeu um pouco de força com o lockdown, mas nada que viesse a mudar a direção do nosso resultado. Dobramos o lucro de um ano para o outro. Se não tivesse março, provavelmente seria um número ainda melhor.
Então, estamos felizes com o nível de realização da empresa, no que chamamos de micro, e, no macro, a indústria vem mostrando a sua força, com um nível de demanda bastante elevado.
Inv.com – O que vocês esperam para o mercado daqui para frente?
EL – Essa é a maior receita de aluguel que a gente apresentou em um trimestre, o que mostra a força do aluguel. O mercado tem várias avenidas de crescimento: o próprio RAC, por exemplo, substituindo o transporte coletivo e o avião, para algumas empresas; o turismo doméstico e terrestre, que temos pouca dúvida que irá continuar nesse cenário de vacinação e pandemia. Uma nova alavanca muito forte é o aluguel por assinatura, o aluguel de longo prazo. O mercado em si está mostrando muita força, com toda a transformação e os novos números que surgiram a partir do ano passado.
Inv.com – Algo que vinha sendo destaque é a venda de seminovos. Como foi a performance neste trimestre?
EL – Vendemos menos carros do que no quarto trimestre. Foram cerca de 5 mil carros. Isso é abaixo do que venderíamos normalmente para sustentar a atividade de aluguel. Como eu falei, o RAC veio bem e o GTF está crescendo 30% ao ano.
O fornecimento de carros é o grande ponto de interrogação que temos na indústria como um todo. Ele vai se regularizar? Se sim, quando? Nossa expectativa hoje é que ele se regularize no segundo semestre de 2021. Achávamos que seria na primeira metade do ano, mas o lockdown e a piora da pandemia globalmente acabaram afetando. No nosso caso, o lado positivo dentro desse cenário difícil é que as montadoras cumpriram o que prometeram no primeiro trimestre do ano. A regularização irá permitir que a gente volte a crescer com uma velocidade maior. Temos que aguardar, mas continuamos otimistas.
Inv.com – Você mencionou que há desafios pela frente. Quais são os outros desafios além desse?
EL – Continuar a aceleração digital, que é uma tendência. O desafio das montadoras acaba trazendo o desafio da renovação da frota, para não permitirmos que a frota envelheça e, com isso, aumentem custos, haja perda de eficiência e que a percepção do cliente seja prejudicada. Mas acho que, no fim do dia, olhando de dentro para fora, a companhia e a indústria estão muito bem. Quando saímos do micro para o macro o nível de incerteza aumenta, mas estamos otimistas em relação ao que vem por aí porque, mais uma vez, a indústria mostra que tem força, que tem demanda, e a empresa melhorou. Apresentamos números de lucro bastante fortes, dobrando de um ano para o outro, e melhoramos.
Inv.com – No trimestre anterior vocês tinham um forte foco no aluguel de longo prazo. Vocês têm visto crescimento?
EL – Está indo bem, para não dizer que está indo muito bem. O segmento está incluído no GTF, que cresceu 30% ano a ano. E ele responde por uma parte importante desse crescimento, porque foi lançado durante a pandemia. Em nosso modelo de vendas, vendemos o carro disponível e ele pode ser retirado na loja em até três dias, ou seja, é um processo muito bom para o cliente.
Inv.com – Continua sendo a maior aposta?
EL – Continua. Porque os outros são mercados que estavam em expansão, mas são produtos mais tradicionais. Esse é um produto green field. Ele concorre com o leasing, mas tem muito mais serviços adicionados, como carro reserva, manutenção, pagamento de imposto… Como é um produto novo com um mercado por explorar, estamos bastante otimistas em relação a esse crescimento
Inv.com – Quais são as outras avenidas de crescimento?
EL – No RAC há toda essa mudança de hábito no turismo doméstico, substituição do transporte coletivo… Tudo isso nos ajuda. No GTF, há a baixa penetração do segmento corporativo na terceirização de frotas. No Brasil não é nem de 15%, enquanto em economias maduras entre 40% e 50% da frota corporativa é terceirizada. Esse fundamento é muito forte para permitir que o GTF cresça no B2B nos próximos anos sem grandes sustos. Mas, de novo, falando em crescimento relativo, sem dúvida nenhuma o maior crescimento está no carro por assinatura.
Fonte: Investing.com (Brasil)