Há 60 anos, VW Kombi estreava produção no Brasil
Ela atuou no transporte escolar, fez entregas em domicílio, foi o veículo oficial da Telesp (empresa de telecomunicações de São Paulo) e até das polícias paulistas. Porém, no fim de 2013, após 56 anos de história, precisou deixar as linhas de produção da planta da Volkswagen, em São Bernardo, por não atender às resoluções 311 e 312 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que exigiu air bag duplo e freios antitravamento em todos os veículos produzidos no Brasil a partir de 1º de janeiro de 2014.
Mesmo se você não é pirado em carro, com certeza sabe que estamos falando da saudosa Kombi, que amanhã comemora 60 anos do início de sua produção no Brasil.
HISTÓRIA
Na Alemanha, o modelo – batizado como Typ 2 – era fabricado na planta de Wolfsburg desde 1950 (foi apresentado à imprensa especializada em outubro de 1949), mesmo ano em que chegou ao Brasil, importado pelo grupo Brasmotor – que representava a VW por aqui. Aliás, o nome Kombi vem do termo kombinationsfahrzeug (veículo de uso combinado).
De início, o furgão em questão tinha três janelas nas laterais e bancos removíveis. Com a mesma plataforma do Fusca (o entre-eixos tem, exatamente, o mesmo tamanho), o modelo não tinha vidros traseiros nem para-choques, e as lanternas eram mínimas, em formato redondo. Outra curiosidade é que, de início, o estepe vinha junto ao motor.
Em 1953, a Kombi passou a ser importada ao Brasil pela Volks, que abriu sua própria filial no País – ainda um galpão na Capital, até que a fábrica de São Bernardo ficasse pronta.
Por fim, foi em 2 de setembro de 1957 que a conhecida Perua (apelido carinhoso recebido por aqui) teve sua primeira unidade fabricada na Anchieta. Na mecânica, figurava o motor boxer com 1.192 cm³ e potência de apenas 36 cavalos. Já o câmbio tinha quatro marchas (configuração que permaneceu até a última unidade).
É justamente esse modelo – vulgo Coruja – que encantou Fernando Barbato, 41 anos, morador de São Bernardo. Apaixonado por carros, o engenheiro e piloto de testes sempre colecionou miniaturas de Kombi. “Anos mais tarde pensei em comprar uma de verdade. Eis que, em 2013, esse sonho se concretizou”, conta o segundo dono do modelo, que está visualmente 100% original e apenas precisou de ajustes na mecânica e tapeçaria.
Quem também tem uma na garagem – adquirida em 2011 – é Kathrin Pfeffer, 47. A economista, que trabalha na fábrica da Mercedes-Benz do Brasil, em São Bernardo, conta que vira a sensação quando resolve ir ao trabalho de Kombi. “Também uso nos fins de semana para passear. Eu adoro o meu Bully (nome dado ao modelo na Alemanha, terra de origem de Kathrin). A paixão começou ainda na infância, pois meus pais tinham uma (Kombi) azul, que nos transportava em viagens de verão. Por isso comprei.”
O sucesso da Velha Senhora (outro apelido carinhoso do saudoso VW) foi tanto que, em seus 56 anos de estrada no Brasil, teve versões picape, cabine dupla, com motor diesel… A única mudança drástica de visual aconteceu em 1976.
Em 2006 veio a motorização 1.4 flex de até 80 cv (quando bebe etanol). E foi nesta configuração que a Kombi foi lançada (em 2013) como série especial Last Edition, limitada a 1.200 unidades (numeradas e com itens exclusivos, como pintura saia e blusa, cortinas e bancos de vinil). Mesmo por R$ 85 mil, o lote de despedida foi esgotado e exportado para países dos cinco continentes. No dia 19 de dezembro de 2013 a última Kombi deixou as linhas de produção da fábrica da Anchieta. E sem apresentar sucessor!
Um pouco antes disso, o pedido especial do funcionário da fábrica da Volks Edi Fernandes, 41, possibilitou a produção da última Kombi não branca do planeta. Sim, o morador de Santo André, que trabalha na manutenção da área de pintura, faturou um modelo em tom prata. “Muita gente pensa que esta é a Série Prata (edição especial, de 2005, que encerrava a produção do motor a ar), mas trata-se apenas de configuração exclusiva. Um marco!”
Sua paixão antiga sempre teve compras barradas pela necessidade de gastos com restauração ou altos preços cobrados pelos proprietários. Porém, “dessa vez deu certo! Comprei um modelo zero-quilômetro e, sobretudo, único. É o meu orgulho!”, diz Fernandes, que só usa o veículo para participação em eventos Brasil afora. “Fica guardado embaixo dos cobertores”, brinca ele, que é fundador e presidente do Fusca Clube ABC.
Recentemente a Volkswagen confirmou a produção em série do conceito I.D. Buzz, apresentado em janeiro durante o Salão de Detroit, Estados Unidos. A releitura conceitual, prevista para 2022, herda características da veterana, mas inova em detalhes, como motor elétrico.
ENCONTRO
Para comemorar os 60 anos de produção nacional da Kombi, o São Bernardo Plaza Shopping vai sediar, no domingo, o segundo Encontro de Kombis. Com curadoria do Sampa Kombi Clube, o evento (aberto ao público a partir das 10h, no estacionamento do local) terá estrutura para alimentação, apresentação de jazz e Kombis temáticas, como o modelo que funciona como um estúdio de caricaturas e a Kombi com cabine para tirar fotos. Além disso, terá a presença do vlogger Marcelo Tonella, que comanda um canal no YouTube, com aproximadamente 250 mil inscritos, sobre mecânica automotiva voltada especialmente para fuscas e carros antigos.
De acordo com Eduardo Gedrait, presidente do Sampa Kombi Clube, o grupo (que tem média de 1.000 integrantes) é fundamental para manter as memórias dos apaixonados pelo utilitário e para ajudar as pessoas no processo de restauração.
Por Vagner Aquino, do Diário do Grande ABC.