Revendedoras de veículos projetam alta de 3% a 4% nas vendas deste ano
Maior concorrência e a redução da comercialização nos últimos anos não abalaram a expectativa positiva para negócios dentro do setor de seminovos, cadeia fortemente atingida pela recessão
Mesmo diante da redução de vendas nos últimos anos e da concorrência com concessionárias, as revendedoras de automóveis projetam recuperar as vendas e reaquecer o segmento nos próximos meses. A expectativa é que neste ano o consumo de veículos usados volte a crescer entre 3% e 4%.
“O consumidor tem estado inseguro em se endividar a longo prazo”, avalia o presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), Ilídio dos Santos. Por isso, diz ele, o comércio de automóveis usados perdeu força nos últimos anos, tendo como principal causa o cenário econômico.
Nesse sentido, em 2018, foram vendidos pouco mais de 2,2 milhões de veículos usados no Brasil. Comparando com 2014, antes da crise, as vendas chegaram a 4,4 milhões, o que representa redução de 50,12% no período.
Ante a 2015 – outro ano forte para o segmento – foram 5,1 milhões de automóveis vendidos, 56,43% a mais que em 2018. Além da crise, outro fator determinante para a queda é a concorrência com concessionárias.
“Nos últimos anos as montadoras vieram mais fortes, com preços mais acessíveis e condições melhores”, afirma. Exemplo disso é que, conforme os valores de taxas de juros para aquisição de veículos compilados pelo Banco Central, a variação do percentual cobrado ao mês para os veículos zero fica entre 0,86% e 2,02%. Já o de veículos seminovos varia de 1,15% e 3,93%.
“Algumas montadoras bancam a entrada zero e um financiamento mais extenso. Isso torna o mercado mais acirrado”, diz o líder da Fenauto.
A professora de economia da Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP), Ana Paula Lacovino Davila, explica que melhorar as condições de financiamento foi a forma de as montadoras manterem a atratividade. “Em tempos de crise, por ter mais opções, o mercado de carros usados tende a ser favorecido.”
Segundo ela, com a maior atratividade das montadoras, o segmento de veículos seminovos sofreu consequências. Entretanto, a especialista avalia que a disputa não está tão desequilibrada. “Quando a marca da concessionária não é confiável para o consumidor, a melhor alternativa são as revendedoras multimarcas”, diz.
Em linha com as considerações de Ana Paula, o presidente da Associação dos Revendedores de Veículos do Paraná (Assovepar), Cesar Lançoni, avalia que, embora a concorrência seja acirrada, há espaço para as duas pontas. De acordo com ele, nos últimos meses o segmento se manteve estável, sem grande oscilações.
Além disso, lembra ele, a economia nacional deve melhorar nos próximos meses. “Se com cenário político mais estável a confiança do consumidor se restabelecer, no Paraná, esperamos o crescimento das vendas ainda este ano.”
O presidente da Associação dos Revendedores de Veículos no Estado de Minas Gerais (Assovemg), Glenio Leonardo de Oliveira Junior, também se mostra otimista com o futuro.
Com a melhora do cenário econômico nacional, Oliveira Junior acredita que o segmento no Estado terá um crescimento na casa dos dois dígitos até o fim de 2019. O presidente da Assovemg explica que há alguns anos, a venda de seminovos em relação aos carros zero era quase três vezes maior. Hoje, a diferenciação entre os números de um segmento e de outro é muito fraca. A expectativa é que em um médio prazo isso volte a acontecer.
AplicativosPara os especialistas, outros fatores têm influenciado na diminuição de vendas, como o novo perfil do cliente e a transformação do mercado, que dá espaço para aplicativos de mobilidade e aluguel de carros.
De acordo com Lançoni, da Assovepar, a interferência dos Apps nas vendas é mais forte com quem mora próximo do trabalho ou em locais mais acessíveis. O presidente da entidade avalia que, neste caso, a opção de pedir um motorista pode se tornar mais forte do que a de comprar um carro.
“Não dá para pegar um Uber toda hora, em alguns casos fica economicamente inviável”, afirma o executivo.
Santos, da Fenauto, também acredita que os aplicativos estão, de algum modo, impactando as vendas. No entanto, para ele, o mercado automotivo já estão se adaptando às transformações.